ATA DA VIGÉSIMA QUARTA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 04.09.1990.

 


Aos quatro dias do mês de setembro do ano de mil novecentos e noventa reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Vigésima Quarta Sessão Solene da Segunda Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada a assinalar os noventa anos do Colégio Estadual Júlio de Castilhos. Às dezessete horas e dez minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Prof. Otávio Rojas Lima, Diretor do Colégio Estadual Júlio de Castilhos; Profª. Tânia Maria Heinrich, Primeira Delegada de Ensino, representando a Secretária de Estado de Educação; Prof. Joaquim José Barcelos Felizardo, ex-Secretário Municipal de Cultura e ex-Presidente do Grêmio Estudantil do Colégio Júlio de Castilhos; Dr. Carlos Alberto Jaeger, representando o Secretário de Estado do Planejamento; Eng. Daiçon Maciel da Silva, representando o Secretário de Estado da Indústria e Comércio; Sr. José Luís Pedroso, Presidente do Grêmio Estudantil do Colégio Júlio de Castilhos; Prof. Décio Nunes Floriano, ex-Docente do Colégio Estadual Júlio de Castilhos; Ver. Lauro Hagemann, 1º Secretário da Casa. A seguir, o Sr. Presidente fez pronunciamento alusivo à solenidade, destacando a importância dessa modelar escola para a comunidade porto-alegrense, e concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Antonio Hohlfeldt, em nome da Bancada do PT, destacando que “falar no Julinho não é apenas falar do passado, é falar da utopia e, logo, do futuro”, analisou o significado do Colégio Estadual Júlio de Castilhos dentro da história educacional gaúcha e comentou livro editado este ano, organizado pelo Professor Joaquim Felizardo, que visa registrar a memória deste estabelecimento de ensino. Dizendo ser o “Julinho” uma escola onde o aluno aprende a pensar, atentou para os diversos movimentos ali fundados, como os ligados ao tradicionalismo, ao teatro e à realização de feiras de ciências em nossas escolas. Falou de seu orgulho de ser um “juliano”, salientando o grande número de personagens importantes do cenário político nacional que já passaram pelo Colégio Estadual Júlio de Castilhos, lembrando, em especial, o nome do jovem José Eurico, metralhado em São Paulo, nos anos políticos difíceis que atravessou nosso País. O Ver. João Db, em nome das Bancadas do PDS e do PFL, comentando o quanto marcou sua vida e a de centenas de jovens o fato de ter freqüentado o Colégio Estadual Júlio de Castilhos, citou nomes dos professores da sua época e falou da disputa existente entre os alunos dos Colégios Rosário, Anchieta e Júlio de Castilhos na realização das provas do vestibular. Leu frase de Rui Barbosa sobre a educação, discorrendo acerca das dificuldades que o processo educativo enfrenta hoje, como o parco salário para os professores, a educação acelerada e tangencial, entre outras. Instou pela necessidade de que a educação e os educadores sejam mais valorizados e respeitados. Após, o Sr. Presidente registrou a presença, no Plenário, da cronista Ivete Brandalise e da Profª. Iara Maria Silva Rojas, Presidente do Centro de Professores do Colégio Estadual Júlio de Castilhos. O Ver. Lauro Hagemann, em nome da Bancada do PCB, dizendo ser o Colégio Estadual Júlio de Castilhos um lugar não apenas “de transmissão de conhecimentos, mas uma escola de vida, um espaço de sonho”, salientou a presença marcante dessa escola na história educacional gaúcha do século XX. Traçou paralelo entre sua experiência como aluno do Colégio hoje homenageado e sua experiência anterior, em uma Escola luterana no interior do Estado. Declarou ter iniciado sua vida política como Secretário do Grêmio Estudantil do “Julinho” e, finalizando, propugnou para que o ensino volte a ser o que era no Colégio Estadual Júlio de castilhos, analisando a franca decadência do ensino em nosso Estado, que já foi exportador de tecnologia educacional. E o Ver. Isaac Ainhorn, como proponente da solenidade e em nome das Bancadas do PDT, PMDB, PTB, PSB e PL, destacando ser esta Sessão, além da homenagem, uma reflexão da situação do ensino no Estado e no País, teceu comentários sobre a história do Colégio Estadual Júlio de Castilhos e analisou o exercício da prática política que ali podia ser realizado. Declarou ser o “Julinho” uma escola diferenciada, adotando uma política de educação voltada para dentro e fora da escola. Narrou fatos históricos que viveu como aluno deste Colégio, salientando que o que se pretende resgatar para a educação é a inquietação, a vida intelectual e a prática anterior que pulsava na escola homenageada. Defendeu a idéia de que o movimento da Legalidade teve seu início no Julinho, narrando acontecimentos daquela época e comentando a estrutura parlamentarista do Grêmio Estudantil em mil novecentos e sessenta e um. Após, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao estudante José Luis Pedroso, Presidente do Grêmio Estudantil Júlio de Castilhos, que falou dos noventa anos do Colégio Júlio de Castilhos, comentando a história desta escola e seus objetivos de formar e informar seus alunos. Analisou o significado de ser estudante do “Julinho”, como marca a ser carregada por toda vida, salientando o espírito que anima os alunos e ex-alunos desse Colégio. Em prosseguimento, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Prof. Otávio Rojas Lima, Diretor do Colégio Estadual Júlio de Castilhos, que falou de seu orgulho de ser diretor desse Colégio, comentando sua história e significativa presença cultural e anunciando, para este mês, o lançamento do livro com memórias e história do Colégio Estadual Júlio de Castihlos, contadas por ex-julianos. Dizendo que educar para a liberdade é o objetivo que norteia a política educacional do “Julinho”, analisou a natureza do ensino ali oferecido e agradeceu a homenagem hoje prestada pela Casa. Em continuidade, o Sr. Presidente procedeu à entrega ao Prof. Otávio Rojas Lima, de um exemplar da Lei Orgânica do Município de Porto Alegre, agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos às dezoito horas e dezenove minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Valdir Fraga e secretariados pelo Vereador Lauro Hagemann. Do que eu, Lauro Hagemann, 1º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelo Sr. Presidente e por mim.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Valdir Fraga): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão.

Senhoras e senhores, neste 04 de setembro, temos a imensa satisfação de registrar a homenagem da Câmara Municipal ao Colégio Estadual Júlio de Castilhos, pela passagem dos noventa anos de sua existência, comemorados em março do corrente ano.

Fundado em 1899 - e inicialmente ligado à Escola de Engenharia - o Colégio, que se convencionou denominar de escola padrão, abrigou em seus bancos homens e mulheres ilustres, constituindo-se, sem sombra de dúvidas, num ponto de referência de nossas entidades escolares.

Nossa saudação, portanto, aos profissionais que integram essa modelar instituição de ensino, consagrada dentro e fora de nossas fronteiras.

Passo a palavra ao Ver. Antonio Hohlfeldt, que fala pela Bancada do PT.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr. Vereador Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal; companheiro Lauro Hagemann, 1º Secretário; Prof. Otávio Rojas Lima, Diretor do Colégio Julinho; Profª Tânia Heinrich, Primeira Delegada de Ensino, representando a Secretária de Estado da Educação; Prof. Joaquim Felizardo, sempre professor, sempre aluno por certo e, sobretudo, sempre um homem que tem a memória dos acontecimentos significativos desta Cidade; Dr. Carlos Jaeger, representando o Secretário de Estado do Planejamento; Eng. Daiçon da Silva, representando o Secretário de Estado da Indústria e Comércio; Sr. José Luís Pedroso, Presidente do Grêmio Estudantil; Prof. Décio Nunes Floriano, ex-docente do Colégio; meus senhores, minhas senhoras. Certamente meus ex-companheiros de Julinho, se não em termos de contemporaneidade, certamente de experiência na escola, em suas várias épocas. Foi difícil estar eu, hoje, nesta tarde, nesta Sessão, porque a nossa Bancada, o PT, dos nove, sete são ex-alunos do Julinho, e isso diz, de imediato, da significação da escola. É um percentual imenso, e acho que se repete nas várias Bancadas, de maneira que vários eram os Vereadores candidato a representarem, hoje, o nosso Partido nesta solenidade, mas me coube a honra, a responsabilidade, e neste sentido quero falar não apenas no meu nome pessoal, mas muito especialmente dos meus companheiros Vereadores e ex-julianos.

A homenagem mais lugar-comum que se poderia dizer em torno de uma escola que queremos marcar é exatamente falarmos dela como o lugar da memória, que constituiria aquilo que na literatura chamamos de top-oil, um lugar-comum, referencial, aquele espaço ao qual sempre voltamos, mas, por deferência do Professor Diretor Lima, tive oportunidade de ler os originais do livro que será lançado no próximo dia 20 com depoimentos de ex-alunos e dali me ficou clara uma expressão: falar do Julinho não pode ser falar apenas do passado, mas, sim, do espaço e da utopia e, neste sentido, falar do futuro. É isto que gostaria de nortear nesta pequena intervenção: o espaço da democracia, o espaço da construção da auto-imagem e da identidade. Há um consenso nos depoimentos e certamente haverá um consenso nos pronunciamentos de hoje. Me refiro especificamente a Ivete Brandalise, nossa cronista e cidadã de Porto Alegre, pois ela faz muito bem, entre tantos que se manifestam neste volume, lembrando que era o momento que se constituía para cada um de nós que lá estudamos o espaço daquilo que chamaríamos dos ritos de passagem, saímos de uma área de sonhos para a área do crescimento, momento adulto desta definição de vida.

Neste sentido, a experiência de cada um de nós vai contrariar aquela velha tese segundo a qual a escola é um dos tantos aparelhos ideológicos que reproduz ideologias. O Julinho foi este espaço que nós conseguimos construir a nossa imagem das mais diferentes maneiras: profissionalmente, pessoalmente com experiências multiplicadas em vários cantos. Reunindo algumas delas, lembraria que nos anos difíceis - estive lá entre 1964 e 1967 -, nestes anos foi aluno um jovem que mais tarde seria morto dentro de toda aquela conturbação da paisagem política brasileira dos anos 70 que eu queria lembrar aqui, que é o Luiz Eurico Tejera Lisboa, que foi morto em São Paulo, assassinado, metralhado, num quarto anônimo de pensão. O Luiz Eurico era meu colega de aula; com o Luiz Eurico, por exemplo, eu descobri estudar filosofia. Mas era nosso professor nessas aulas que nos deixavam absolutamente fascinados, alguém que talvez até pela idade não está aqui, hoje, o Professor de Filosofia Aldo Obino, que todos nós conhecemos da crítica dos jornais e que ensinou a mim e a muitos de nós muito mais do que filosofia, nos ensinou a própria vida, por exemplo, quando saia com alguns de seus alunos e ia conosco a um espetáculo de teatro, a um concerto e, depois, a gente ia bater papo e ia aprender a como ver isso. Eu devo ao Obino - e já o disse aqui, nesta Casa, quando trouxemos o título de Cidadão Emérito ao Prof. Aldo Obino - ter me tornado um crítico, um jornalista. Mas nós tínhamos também, da parte de alunos, essas iniciativas e lembrávamos ainda há pouco o Magadan, que hoje é Diretor-Presidente de uma rede de comunicação das maiores do Estado. O Magadan, ao meu tempo, era o Presidente do Grêmio Estudantil. Lá, em convênios com a Associação Riograndense de Imprensa - e a Ivete vai lembrar disso, com toda certeza - nós tínhamos os primeiros cursos de introdução ao jornalismo, quando nós, no clássico ou no científico, ainda não sabíamos bem o que íamos fazer da nossa vida e da nossa profissão e sofríamos certamente as pressões das famílias para nos definirmos de uma vez por todas. Eu me lembro da angústia de todos nós, discutindo - fazer isso ou fazer aquilo - isso que o vestibular não era essa pressão, essa coisa indescritível que é hoje.

No Julinho, sem dúvida nenhuma, passaram percentuais extremamente significativos dos que hoje vivem a vida política do Estado e do Brasil. Basta lembrarmos um dos nossos Ministros atuais, que é ex-aluno, Secretário Nacional de Ciências e Tecnologia, cargo que corresponde ao de Ministro, basta lembrarmos ex-Governadores, Deputados e, obviamente, Vereadores que por lá passaram. Esse espaço do Julinho realmente me parece que é a tônica que a escola, mesmo nos piores momentos, mesmo nos momentos mais críticos que atravessou, tornou a sua principal característica. Lá nós aprendíamos a dialogar e isso era fundamental; ouvir e falar e não apenas falar. Lá nós aprendemos novos caminhos e certamente muita gente mudou posições exatamente naqueles anos que passou na escola, descobrindo coisas que, até então, não descobrira. Lá, até, por vezes, a gente aprendia a matar uma aula, ir para a matinê proibida, o que era ótimo, para no outro dia se voltar à aula com todo o ritmo! Lá foram fundados movimentos fantásticos: lá iniciou, de uma certa maneira, o movimento tradicionalista do Rio Grande do Sul; lá iniciou, também, o movimento coral; lá, nós chegamos até, em certo momento, a ter um grupo de teatro, para não falar do que hoje denominamos de clubes de ciência e que tinham outros nomes na época, eram atividades extraclasse que se desenvolviam e abriam-se os espaços para que os alunos fossem, gradualmente, descobrindo as suas definições.

O contexto dos noventa anos do Colégio que hoje festejamos nesta Casa, pela feliz iniciativa do Ver. Isaac Ainhorn, me parece que se dá, na sua comemoração de ano inteiro, num momento extremamente importante para todos nós, no momento em que lutamos pela recuperação dos direitos à educação e, sobretudo, pela recuperação da imagem da escola pública e dos seus profissionais. Nesse sentido, me parece que o trabalho do atual Diretor é admirável, não apenas no sentido de reunir a todos nós ex-alunos, de várias épocas, de várias idades, de diferentes experiências, mas, sobretudo, porque o Prof. Lima tem mostrado que existem várias alternativas, às vezes até contraditórias e algumas, como ouvi, até passíveis de alguma crítica, mas sem dúvida nenhuma não é criticado quem não faz e, nesse sentido, colocar o Julinho na pauta da informação, do noticiário, das preocupações de todos nós através de uma série de iniciativas e de festejos, que vão desta Sessão às reuniões de ex-alunos e, sobretudo, um livro que vai marcar - e tenho certeza, Prof. Lima, que o senhor terá que promover um segundo livro porque este vai provocar a memória de outros que não foram chamados nesse primeiro convite -, vai marcar porque o Julinho e a sua comemoração não é apenas um espaço da memória, mas é um espaço da utopia, um espaço do futuro.

É nesse sentido que queria, muito especialmente nesta homenagem, embora não estando aqui na Mesa todos os companheiros, estender através do Presidente do Grêmio e de outros companheiros que vejo aqui na platéia e que outro dia conversavam comigo, quero estender ao corpo docente, ao corpo discente da escola o abraço e o meu orgulho por ter sido, também, ainda que por pouco tempo, um juliano, meu orgulho e orgulho dos meus companheiros de Bancada. Sou grato.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Falará, em nome do PDS e PFL, o Ver. João Dib.

 

O SR. JOÃO DIB: Meus senhores e minhas senhoras, em 1945 chegava aqui um jovem, quase um menino, que ficava deslumbrado com aquele colégio magnífico na Av. João Pessoa que era o Júlio de Castilhos. Aquele Colégio que havia de marcar a sua vida através de professores que eu gostaria de rememorar - e gostaria de rememorar todos - o Aldo Obino, aqui citado pelo Ver. Antonio Hohlfeldt; o Abílio Azambuja, que foi diretor e nosso professor de química; o Natal Paiva, professor de biologia, mas também diretor do Júlio de Castilhos; o Athaulpa Cibils, nosso professor de química; Madame Germain nos ensinando francês; René Bernot, com as suas memoráveis aulas de história; o Professor Carrion que sabia colocar entusiasmo em todos nós nas suas aulas de geografia, lembrando sempre algo de interessante, dizendo algo de bom e mantendo todos os alunos alegres e contentes e ansiosos por suas aulas; o Prof. José Carlos Bertel com as suas aulas de física; o Prof. Brito com a sua barba impressionante e assustando, mas de uma bondade extrema; o Prof. Melo dando aulas de matemática e apagando o quadro-negro com a sua manga do casaco que era de alpaca, brilhante, em tecido; o Prof. Settineri dando aulas de química; o nosso Prof. Tito ali presente; Profª Norma Thiele, dando aulas de inglês; Prof. Antônio Dias dando suas aulas de biologia; o Médico Amadeu Faviero que orientava a todos; o Prof. Fredolino que fazia as aulas de ginástica; o Prof. Tuiskon Dick, hoje nosso Reitor e acho que iria enumerar muitos mais e terminaria assim mesmo esquecendo muitos deles. Mas o Julinho marcou, não só a mim, mas marcou centenas, milhares de jovens.

O Julinho que formava turmas e que disputava nos vestibulares com o Rosário e o Anchieta para saber quem chegava em primeiro lugar no vestibular. Na minha turma, chegou o Isnar Peixoto na medicina. Aquela luta entre os colégios era estimulada pelos professores que colocavam nos alunos a idéia de aprender e aprender mais e fazer um bom vestibular sem a necessidade que hoje temos dos cursinhos. Naquele tempo quase não existia, tinha o Prof. Alberto de Brito e Cunha com o seu cursinho lá na Rua da Praia e que fazia um belo trabalho e o Prof. Tito pode dizer melhor que eu deste belo trabalho do Prof. Alberto Brito e Cunha. Mas as entidades são diferentes das pessoas: as pessoas, à medida que o tempo passa, adquirem experiência, sem dúvida nenhuma, mas perdem as suas forças, e as entidades adquirem forças, adquirem experiência e rejuvenescem. Esta é a regra.

Não vou fazer análise nenhuma do ensino no Brasil, vou apenas ler uma frase que diz o seguinte: “Uma reforma radical do ensino público é a primeira de todas as necessidades da Pátria, amesquinhada pelo desprezo da cultura científica e pela insigne deseducação do povo”. Esta frase é muito atual? Claro que é, mas esta frase é de Rui Barbosa, vejam que tem várias décadas de vida, mas está muito presente. Hoje, nós estamos aprendendo muito pouco. Hoje, os professores têm imensas dificuldades em ensinar, porque ganham pouco, porque a vida se tornou extremamente difícil e nós não fazemos mais exames orais, não fazemos mais provas dissertando sobre a matéria, nós fazemos risquinhos.

Eu acho que é chegado o momento de pensar e pensar muito. Nós precisamos aprimorar os nossos métodos de ensino, nós precisamos reviver o Julinho que freqüentamos, com aqueles professores dedicados e extraordinários. E dedicados também são os professores de hoje, sem dúvida nenhuma, mas a própria vida moderna, acelerada, torna cada vez mais difícil o nosso ensino. E nós precisamos fazer muito. E todos nos, que tivemos a felicidade de sermos alunos do Colégio Estadual Júlio de Castilhos, temos a responsabilidade de dar a nossa contribuição, de levar a nossa parcela de trabalho, de dar o nosso esforço para que os nossos filhos, os nossos netos, cada vez aprendam mais e que a frase do Rui Barbosa não tenha mais sentido, mas, no momento, lamentavelmente tem. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Registramos com prazer as presenças da Profª Iara Maria Silva e da querida amiga Ivete Brandalise.

Com a palavra o Ver. Lauro Hagemann, pelo PCB.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, ex-julianos, professores e alunos, não é fácil falar do Colégio Estadual Júlio de Castilhos. Este século XX em termos de ensino, neste Estado, foi ocupado, grandemente, e brilhantemente, por este estabelecimento de ensino. O Júlio não é uma escola qualquer, não é um ministrador puro e simples de ensino, não é um transferidor de conhecimentos. O Julinho foi uma escola de vida e o Ver. Antonio Hohlfeldt situou bem: foi uma escola de sonhos, uma escola na qual a juventude deste Estado teve a ventura de freqüentar seus bancos, auriu uma série de conhecimentos, e pôde expandir a sua criatividade, como em nenhum outro estabelecimento de ensino neste Estado.

Freqüentei o Julinho um pouco depois do prezado Ver. Dib, na década de 50, e o Julinho era um modelo de democracia para quem, como eu, vindo do interior do Estado, de colégio luterano, aquelas demonstrações de assembléia geral, eram um verdadeiro ato de horror, porque não conseguia explicar como que uma assembléia reunida na escadaria do colégio verberava as atitudes do diretor da escola, o falecido Prof. Natal Paiva, e como um colégio, antes de se iniciar o ano letivo de 1951, entrava em greve contra o ato do Diretor Ernani Álvares Cardoso que queria dividir os rapazes e as moças. Para mim era surrealista aquele espetáculo, mas fui me habituando e entendendo. No ano de 1952, comecei a minha vida pública como secretário do Grêmio Estudantil do Julinho e, desde então, não parei mais. São trinta e oito anos de atividade em prol das mais variadas coletividades: estudantil, secundarista, universitária, sindical, político-partidária, comunitária. E esta foi uma lição muito importante que aprendi no Julinho: me abstrair de mim mesmo para dar à coletividade.

Para se analisar o papel do Júlio de Castilhos vai ser preciso muito tempo até que se decante todo esse processo, um estudo sociológico profundo do que foi o colégio, o que deixou e aquilo que o Ver. Dib disse: de que devemos todos nós nos esforçarmos para que o ensino volte a ser o que era o Júlio. Infelizmente o nosso processo educacional está em franco retrocesso. Não podemos admitir que este Estado, que foi exportador de tecnologia educacional nas décadas de 1950 e 1960, em que professores de outros estados aqui vinham para se abeberarem do desenvolvimento pedagógico do Rio Grande do Sul em termos de ensino público tenha sido levado a esta situação.

O Júlio é tudo isto. Gostaria de ter engenho e arte para cantar mais proficiência às excelências do Julinho, mas só um colégio como ele podia fazer circular as novas idéias que permeavam o mundo. Tivemos lá muitos professores que eram comunistas e alunos que se tornaram comunistas, porque o colégio permitia esse tipo de discussão e de conhecimento. Não fui só eu quem estudou no Julinho, meus filhos também, meu irmão aqui presente e quem sabe meus netos, mas tomara que ele seja aquilo que foi para nós. Todos nós temos esta responsabilidade. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Falará pelas demais Bancadas, o Ver. Isaac Ainhorn, pelo PDT, PMDB, PL, PTB e PSB.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Colegas Vereadores, alunos e ex-alunos que vejo neste momento aqui nesta Casa, atuais professores e ex-professores, realmente esta para todos nós é uma Sessão Solene diferente. Ela, pelas manifestações de meus colegas Vereadores que me antecederam, já revela exatamente que além da homenagem que o Colégio Júlio de Castilhos já é merecedor pelos seus noventa anos, esta Sessão Solene, além da reminiscência que é muito importante de todos os fatos que a história produziu - o Colégio Júlio de Castilhos uma delas - eu tenho aqui registrado e não poderia deixar de mencionar, ela também é, sobretudo, uma reflexão sobre o processo educacional em nosso Estado e em nosso País.

Este é o sentido maior que, eu tenho certeza, a Câmara de Vereadores de Porto Alegre e os meus Pares, ao aprovarem esta Sessão Solene, pensaram, que a direção da Escola pensou, que o Grêmio da Escola pensou. Vejam as situações curiosas que aqui são criadas: sentam-se lado a lado o antigo Presidente do Grêmio Estudantil Júlio de Castilhos, Prof. Joaquim Felizardo, e o atual Presidente do Grêmio Estudantil, já numa nova época em que o Grêmio Estudantil opera e vive normalmente dentro daquela Escola, porque houve tempo em que esse mesmo Grêmio Estudantil esteve com as suas portas cerradas. A redemocratização do País permitiu a reabertura desse Grêmio, mas nem por isso deixou essa Escola de ser uma escola de profunda vivência política.

Um fato que julgo importante aqui registrar dentro dessa interessante experiência pedagógica ímpar e, aí, não tem comparativo, os anchietanos, os rosarienses, os dorenses e tantos outros que me perdoem, com todo respeito e nisso nós nos orgulhamos, aqui passou um perfil de oradores que representaram épocas diferentes, mas que mantém uma unidade. É o Dib, da década de 1945, é o Lauro e o Felizardo, da década de 1960, é o Antoninho, do meio da década de 1960 para 1970, sou eu, da década de 1960, e temos uma unidade. É que o Júlio de Castilhos - e a Helena Volfrides Zelmanovitz, que está aqui presente, confirma isso, na expressão do seu olhar, a Ivete também - era, efetivamente, uma escola diferenciada, porque dentro, a vida educacional daquela Escola se produzia dentro e fora de aula.

E é isso que distingue o Júlio de Castilhos, na minha opinião, das demais escolas. Poderia existir um trabalho educacional maior, mais eficaz, mas o que era comum a todas as escolas. O latim, que aprendíamos com a Profª Ivone Baleika, da Oratio Rex, da Oratio Obliqua, esse latim também era estudado no Rosário de forma muito eficiente, era estudado no Anchieta, e disputávamos, como disse o Ver. João Dib, aqui, os primeiros lugares nos vestibulares. Mas o que diferenciava o Júlio de Castilhos era a vida que pulsava nos seus corredores, porque aprendíamos história, literatura, gramática, ciências, física, química - já no Científico -, mas a nossa inquietação também se dava a nível dos corredores, porque queríamos sustentar as posições dentro das assembléias gerais, inspirados e baseados em filósofos, em grandes autores. Então, fora das salas de aulas tínhamos convívio com Marx, com Engels, com Hegel, com Platão, com Aristóteles, com Descartes, isso é que dava um dimensionamento diferente ao Júlio de Castilhos, em termos de processo educacional.

Essa é a característica, o tipo de ensino que se pretende resgatar no Júlio de Castilhos, neste momento, Prof. Otávio. É esse tipo de vida que queremos reproduzir numa nova forma, mas que traga essa vida que pulsava nos corredores, no dia a dia da Escola! Havia alunos que viviam aquela escola pela manhã, tarde e noite. Registro fatos que, independentemente das posições ideológicas, ocorriam, como embates entre alunos e professores em função das divergências ideológicas, mas havia um clima de muito respeito nesses debates que se travavam, havia um convívio dentro daquela escola de muita fraternidade, isso é que distinguia o Júlio de Castilhos como uma escola que lhe dava a condição de escola-padrão do Estado.

Eu recordo, vejam vocês, os alunos que estão aqui, o Lauro falava da questão da discussão com o Prof. Cardoso, que era uma grane figura, com todas as divergências que se poderia ter, era uma figura extraordinária como professor, da briga da greve entre separar alunos e professores, moços, meninos e meninas. Pois, vejam os senhores, que lá dentro do Júlio de Castilhos, nos idos de 1962, era tal o clima de liberdade existente naquela escola - e o capitão há de se recordar disso - que certa feita numa assembléia geral, e assembléia geral não era feita no horário de aula, sábado à tarde tínhamos assembléia geral, tinha um capelão na escola, e o capelão mandava um pouco contra a gente e tal e estava na época da Revolução Cubana e todo aquele processo. Pois a assembléia geral do Julinho tirou uma Moção, uma Comissão de Inquérito, Ver. Dib, que de vez quando V. Exª requer algumas aqui nesta casa, veja V. Exª, que produzia aquela escola, uma Comissão de Inquérito para averiguar as atividades anticomunistas do capelão da escola. Vejam o que era com respeito a todas as posições existentes, mas esta Comissão de Inquérito chegou a funcionar e chamou o capelão para depor na Comissão e o capelão ia, isso que é o pior, ele comparecia e lá prestava o seu depoimento: “Não, não faço anticomunismo, não é isso, só divirjo da Revolução Cubana”. Ele ia lá e tinha uma espécie de escrivão que levava a termo aquelas declarações prestadas na Comissão de Inquérito pelo capelão.

Vejam os senhores, que escola que dava uma conotação diferente. Eu digo que é um fato histórico e o Julinho, ele produziu inúmeros fatos históricos, um dos fatos da minha geração que julgo que tem que ser reavaliado, inclusive pelo Prof. Felizardo que foi autor de uma obra sobre a Legalidade, é uma tese que sustento, Prof. Felizardo, é de que a Legalidade começou no Julinho, porque o Presidente Jânio Quadros tinha renunciado pela manhã e ele tinha ido para Cumbica, estava aquela confusão, e o País vivia, naquele dia, 25 de agosto, um clima de muita inquietação e muita boataria. Nós subimos às sete horas da noite, fechamos as portas da escola, subimos na marquise do colégio e conclamamos a todos os colegas que marchássemos em direção ao Palácio Piratini. E o fizemos em passeata. Quando lá chegamos, nos postamos nas escadarias do Palácio. Desceu o então Governador Brizola que disse que, naquele momento, recebia um telegrama do Presidente João Goulart, que estava retornando da China e dizia que havia riscos de que não se desse posse ao Presidente Constitucional do Brasil e que, naquele momento, ele declarava a resistência democrática pela posse do Presidente Constitucional do País. Então, é o Julinho que é um marco no início da Legalidade aqui no Rio Grande do Sul. Este é um fato histórico. Este é o Julinho diferente, que nós vivíamos. O Julinho de greves... E recordo, com muita clareza que, uma vez, nos dirigimos ao Prof. José Lodeiro, Diretor da Escola, dizendo que amanhã iríamos declarar a greve. E ele nos respondeu que já ia mandar avisar o Gentil, que era o responsável pela portaria, para fechar a porta, para não haver problema de alguém furar a greve. E assim era o Julinho do Centro de Oratória Silveira Martins, onde se aprendia realmente a falar.

A estrutura de organização do Grêmio Estudantil Júlio de Castilhos era uma coisa incrível, era o parlamentarismo misto com o presidencialismo, em que o Presidente nomeava o secretariado e este secretariado tinha que ser aprovado pela assembléia de representantes, que era formada por todos os presidentes de turma. Então, nós tínhamos o Poder Moderador, que era o Presidente, o Executivo, que era o Secretariado, o Legislativo, que era a Assembléia de Representantes e, pasmem, talvez alguns não tenham conhecimento, o Poder Judiciário, que era formado pelos alunos do segundo clássico, e eles se sentiam verdadeiros magistrados, e quando se reuniam havia uma respeitabilidade em relação às decisões irrecorríveis daquele poder. Recordo-me que queríamos criar uma jurisprudência, o nosso candidato estava no terceiro clássico, e não dava para ser presidente do Grêmio, mas criamos a situação, as eleições eram em outubro, e lançamos o nosso candidato. Criamos um impasse, um conflito que feria os estatutos e o assunto foi parar no Poder Judiciário, mas antes houve as eleições, e o nosso candidato era o Marco Aurélio Garcia, e o Poder Judiciário impugnou as eleições, e se criou uma situação curiosa, as urnas jamais foram abertas. Os outros candidatos, o Carlos Alberto Vieira, de Quaraí, era o representante da direita. E esse era o Julinho, o Clube de Ciências Carlos Chagas, tinha toda uma vida, e lembramos da querida figura do Prof. Werner Kíll, que sempre falava daquele seu jeito, “tá bom, então tá”, e ele incentivava os alunos, tinha o centro de oratória, o CTG, o tradicionalismo nasceu lá.

Registro, aqui, a satisfação, dizia há pouco para alguns companheiros, de que nunca tive formatura, porque na quarta série achamos que não cabia formatura, embora o admissão, para entrar no Julinho, era um verdadeiro vestibular, mas resolvemos no terceiro ano do curso cientifico e clássico, dos idos de 1964, terminava o ano, quando nos formávamos no terceiro ano clássico-científico e resolvemos escolher o Prof. Décio Floriano como paraninfo da nossa turma, do terceiro clássico e cientifico. Evidentemente, que a formatura acabou não saindo. Eu me recordo e o Prof. Décio deve ter essa placa, que nós fizemos um ato lá no Teresópolis Tênis Clube, onde fizemos entrega desta placa porque naquele momento no final do ano de 1964 no Colégio Júlio de Castilhos não houve a formatura no terceiro ano. E assim poderíamos rememorar vários episódios do Júlio de Castilhos, dezenas de episódios que cada um tenho certeza teve e que os leões do Julinho são testemunhas e que foram salvados do incêndio e que lá permanecem até hoje.

Eu que tinha preparado um discurso escrito e que acabei não lendo o discurso, gostaria de encerrar essas reminiscências, dizendo que hoje, passados vinte e cinco anos, Ver. João Dib, do dia em que deixei o Júlio de Castilhos, hoje eu entrei numa sala de aula do Julinho e evidentemente naquele momento quando eu entrava naquela sala e convidava os alunos, naquele momento um aluno me pedia um aparte e questionou sobre uma determinada questão, eu senti que, apesar de tudo, apesar do verdadeiro sucateamento do ensino público em nosso País, o Julinho ainda continua sendo o Julinho e isso é o motivo maior que nos reúne neste momento, esta reminiscência tem este valor maior, este tipo de escola diferente, este tipo de escola diferenciada, que pretendemos ajudar a colocar a nossa contribuição pequena que seja para resgatar aquela escola que foi o Júlio de Castilhos e que hoje é o motivo maior desta Sessão Solene que a Câmara de Vereadores realiza. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao aluno Presidente do Grêmio Estudantil, José Luís Pedroso.

 

O SR. JOSÉ LUÍS PEDROSO: Ilmº Sr. Presidente da Mesa, Secretários, Srs. Vereadores, prezados colegas e demais presentes, o dia 23 de março não foi um dia qualquer. Por quê? É que naquele dia o nosso querido Julinho estava de aniversário. Festejou noventa anos de existência. Criado no romper deste século, manteve-se fiel aos seus princípios de “formar e informar”.

Em nove décadas, conserva-se jovem pelos jovens que por lá passam. O Colégio Júlio de Castilhos imprime sua marca em todos quantos por ele passam. Ostentar o emblema do “Julinho” não é apenas um adorno externo ou um rótulo que se desgasta, mas denota um espírito interior que se traduz em atos e fatos, como é comprovado por tantas personagens ilustres que lá estudaram.

Noventa anos de existência! Milhares de professores e dezenas de milhares de alunos orgulham-se de pertencerem à imensa família juliana porque lá, hoje como ontem, se cultivam as ciências, promove-se a cultura, dignifica-se a pessoa humana e destacam-se os valores perenes que todos os homens de ideal humanístico buscam “sequiosamente”.

Nosso estabelecimento de ensino passou por diversas denominações, pois a 23 de março de 1900, foi batizado de Ginásio do Rio Grande do Sul; em 1905, passou a chamar-se de Instituto Ginasial do Rio Grande do Sul; em 1908, vem a denominar-se Instituto Ginasial Júlio de Castilhos; finalmente, em 1942, recebe o nome de Colégio Estadual Júlio de Castilhos.

Apesar dos diversos nomes, é sempre o mesmo espírito que anima “Julinho”.

“Os julianos orgulham-se de ser julianos.” Sempre! (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Prof. Otávio Rojas Lima, Diretor do Colégio Estadual Júlio de Castilhos.

 

O SR. OTÁVIO ROJAS LIMA: (Menciona as autoridades presentes.)

A direção do Colégio Estadual Júlio de Castilhos, escola de 2º grau, orgulha-se hoje dos seus noventa anos de educação no Rio Grande do Sul.

E hoje, perguntando a qualquer juliano o que mais marcou sua vida dentro do Julinho, creio que uma resposta sairá de quase todos: o espírito democrático da escola e a liberdade, mas liberdade com responsabilidade.

Nossa escola sempre se caracterizou pela formação política de seus alunos que viram uma escola crescer frente a uma série de situações dramáticas.

O prédio original de nosso colégio, ali na Av. João Pessoa, foi destruído em uma madrugada de novembro de 1951 por um incêndio de origem desconhecida. Passamos para o Arquivo Público, onde o colégio ficou até 1957, quando em junho de 1958 passamos para o prédio atual na Azenha.

Nós acreditamos que realmente o aluno que saiu do Julinho, convivendo com os mais diferentes tipos de colegas de diversos níveis sociais, passou a atuar na sociedade como um homem e não como sombra. Aqui mesmo, nesta Casa, temos vários ex-alunos que estão neste momento cumprindo seu mandato de Vereadores e muitos outros que por aqui passaram e que trouxeram algo do Julinho: o hábito de serem livres, vorazes, de caráter, dignos e firmes em seus atos.

Quem passou pelo Julinho, nome carinhoso pelo qual nosso Colégio atende e é mais conhecido, tem muitas histórias a contar. Historias que hoje fazem parte de suas vidas e que serviram como fontes de meditação e aprendizado.

O próprio nome Julinho surgiu primeiro em 1945, quando em uma partida de futebol, pelo campeonato estudantil, a torcida adversária apupava nossos alunos gritando: “Julinho, Julinho”, acreditando desanimá-los. Enganaram-se, pois a torcida juliana imitou as palavras e incentivou ao dobro os nossos alunos atletas, que viraram o resultado do jogo, fazendo entrar para a história o apelido de um colégio.

Mais do que um símbolo do ensino, o Julinho virou um marco cultural na vida de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul, não no sentido restrito da educação escolar, mas no significado mais amplo e mais profundo que ali se abrigou e se desenvolveu um verdadeiro espaço cultural com tudo que lhe é característico, da herança histórica ao potencial criador no melhoramento das relações sociais entre nós.

Educar para a liberdade é a nossa meta que continua latente até hoje. Queremos formar pessoas dignas, competentes, que pensem e ajam com saber.

Queremos um aluno participativo, polêmico, que lute por suas idéias e que ajude a sua escola a ter um nome no ponto em que ela merece: no topo da educação do Rio Grande.

Com o tempo, verificamos que a história do Julinho sempre teve ligações com momentos políticos. Até mesmo por pequenas causas os alunos do Julinho faziam manifestações em outros tempos, mesmo quando não havia muita liberdade. Hoje a liberdade está de volta e só a educação não voltou.

Nós, que estamos na direção do Julinho desde maio de 1988, não aceitamos a imagem de que a escola pública seja inferior. Lutamos, brigamos, mas conseguimos que a comunidade desse Estado veja o nosso colégio como um modelo de educação.

Para isso, lutamos junto à comunidade, a fim de acreditarem que o Julinho não só tem nome, mas competência como instituição escolar.

Temos hoje uma estrutura de fazer inveja a qualquer escola: uma central de vídeo e som; duas salas de vídeo com setenta lugares cada uma; equipamentos modernos; laboratórios de química, física e biologia fazendo parte do currículo normal e não eventual; educação artística com sete opções para o aluno - entalhe, desenho, serigrafia, cerâmica, música, xilogravura e tapeçaria -, com nove salas especializadas; um laboratório de informática; sala de mecanografia com capacidade para atender simultaneamente vinte e cinco alunos em datilografia. Temos o DTG, o primeiro CTG formado no RS, que deu origem ao movimento tradicionalista no Estado, coral, colônia de férias. Enfim, o Júlio de Castilhos é uma escola que se perpetuará no tempo pela qualidade do seu corpo de professores e pela luta de seus alunos.

Vamos continuar lutando pela educação em nosso Estado, buscando cada vez mais o melhor para o nosso colégio.

A luta não parou pela valorização da escola pública e só com a participação efetiva de toda a comunidade - professores, alunos, pais, ex-alunos - essa escola mostrará seu padrão de qualidade.

Aproveito para convidar a todos para um dos momentos mais importantes da comemoração dos noventa anos: o lançamento do livro ‘Memórias do Julinho’, que reunirá crônicas de ex-alunos, ex-professores e atuais professores que fizeram uma parte da história deste colégio.

Ao adquirir este livro, a partir de 20 de setembro, todos estarão colaborando com uma escola, além de levar para casa uma leitura inesquecível. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

 O SR. PRESIDENTE: Nada mais havendo a tratar, encerro os trabalhos da presente Sessão.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h19min.)

 

* * * * *